TCE-RJ aponta uso de fundos do Rioprevidência para financiar Banco Master
Um relatório do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) revelou que o fundo de pensão dos servidores públicos do Rio, Rioprevidência, manteve investimentos que ultrapassam R$ 2,6 bilhões em títulos e fundos ligados ao Banco Master e sua corretora.
Este montante, segundo o tribunal, representa mais de 25% do total de recursos do Rioprevidência, configurando uma concentração que desrespeita normas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
A principal preocupação é a exposição direta do fundo de pensão a ativos de alto risco, sem as garantias adequadas para proteger o dinheiro dos aposentados.
O Risco das Letras Financeiras
De acordo com os documentos do TCE, o Rioprevidência possui uma exposição de pelo menos R$ 1,1 bilhão em Letras Financeiras emitidas pelo Banco Master. Esses títulos são usados pelos bancos para captar recursos, mas, diferentemente dos CDBs, eles trazem um risco significativamente maior:
- Ausência de Proteção: As Letras Financeiras não contam com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
- Risco de Calote: Em um cenário de quebra ou liquidação do Banco Master, o Rioprevidência poderia arcar com a perda total do valor investido, sem qualquer tipo de seguro.
A preocupação aumentou após o Banco Central vetar a compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB) em setembro, o que levantou especulações sobre a saúde financeira da instituição.
Investimentos em Fundos Problemáticos
Além da exposição direta, o TCE-RJ identificou aportes recentes em fundos administrados pela Master Corretora com portfólios considerados problemáticos e de altíssimo risco para um fundo de previdência.
Fundo "Revolution"
O Rioprevidência aportou R$ 415 milhões neste fundo entre maio e julho.
- A carteira incluía ativos ligados diretamente ao presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro.
- Investia no fundo imobiliário "Brazil Realty", que já foi investigado pela CVM por suspeita de fraude.
- Possuía títulos da "Blum Securitizadora", investigada na Operação Carbono Oculto por suposta ligação com a organização criminosa PCC.
Fundo "Texas I FIA"
Recebeu R$ 100 milhões do Rioprevidência em junho.
- Na data do aporte, o fundo era 96% composto por ações de uma única empresa: a Ambipar (AMBP3).
- Esta concentração é vista pelo TCE-RJ como "incompatível com os princípios de diversificação e proteção" de uma previdência.
- O fundo é investigado pela CVM por supostamente atuar para inflar artificialmente as ações da Ambipar, que dispararam 700% em 2024.
- Até julho, o Rioprevidência já havia registrado perdas de R$ 24 milhões neste fundo. As ações da Ambipar afundaram mais de 90% em outubro.
O que diz o Rioprevidência
Procurado, o Rioprevidência manifestou discordância total da decisão do TCE-RJ e informou que está preparando um recurso para esclarecer o que considera "inconsistências" no documento.
Posicionamento Oficial
Em nota, o fundo de previdência sustentou que:
- As aplicações somariam aproximadamente R$ 960 milhões (valor divergente dos R$ 2,6 bilhões apontados pelo TCE).
- As operações correm de forma "regular e adimplente".
- O Rioprevidência argumenta que "o fato de um fundo ser administrado por determinada instituição - como o Banco Master - não significa que os recursos estejam depositados ou aplicados diretamente nessa instituição".
O TCE, no entanto, rebate este último ponto, afirmando que os documentos comprovam aplicações diretas do Rioprevidência em ativos do próprio banco, como as Letras Financeiras.
A situação expõe a vulnerabilidade dos fundos de pensão a estratégias de investimento de alto risco, colocando em xeque a segurança da aposentadoria de milhares de servidores.
Fonte: E-Investidor

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