Simon Pitel: A Jornada de um Pioneiro e a Alma do Restaurante Roma

Uma história de coragem, visão e a construção de um legado em Brasília.

Da Europa ao Coração do Brasil

Nascido em Bruxelas, na Bélgica, em 1936, de pais poloneses e origem judaica, Simon Pitel teve uma infância marcada pelos desafios da guerra, incluindo a ida de seu pai para um campo de concentração. Aos 21 anos, em janeiro de 1958, ele foi enviado por sua família ao Brasil. Após uma viagem de 17 dias a bordo do navio "Lu e Lumière", ele desembarcou no Rio de Janeiro em 8 de fevereiro daquele ano.

No Rio, morando com sua tia, Simon percebeu que as oportunidades eram limitadas para quem não possuía formação acadêmica. Foi então que um conhecido o convenceu a tentar a sorte em uma cidade que ainda estava nascendo: Brasília.

"Quando eu cheguei aqui, eu falei, Senhor, eles são doidos. Não existe fazer uma capital em quatro anos. E fizeram."

Os Primeiros Passos na Capital em Construção

Chegando a Brasília de avião, o único meio de transporte disponível na época para o canteiro de obras que era a nova capital, Simon começou sua jornada como vendedor ambulante, ou "camelô". Com relógios fornecidos por um importador, ele percorria a Cidade Livre, hoje conhecida como Núcleo Bandeirante, para vender sua mercadoria aos trabalhadores da construção, os "candangos".

A vida financeira em Brasília, apesar do desconforto, era surpreendentemente fácil. Com o dinheiro que juntou, Simon comprou o direito de uma loja e convenceu seu irmão a se juntar a ele. Embora seu irmão tenha retornado ao Rio de Janeiro no mesmo ano de 1958, Simon persistiu.

A Fundação do Roma: Um Ícone Brasiliense

Após altos e baixos nos negócios, incluindo uma crise financeira em 1961 e uma recuperação em 1962 ao fornecer uniformes para a Rádio Patrulha de Brasília, uma nova oportunidade surgiu em 1964: a oferta de um restaurante. O estabelecimento, que pertencia a um italiano, foi registrado oficialmente em 15 de abril de 1960, apenas seis dias antes da inauguração da cidade.

Inicialmente em sociedade, Simon logo chamou seu irmão de volta do Rio para se tornar seu parceiro definitivo no negócio. Assim começava a longa e bem-sucedida história do Restaurante Roma. De um "botequim metido a besta", que servia café da manhã às sete, o Roma se transformou em um renomado restaurante à la carte, tornando-se um ponto de encontro para autoridades e um local obrigatório para quem vivia em Brasília nos anos 70.

O sucesso do restaurante é um testemunho da filosofia de Simon:

"Respeitar o freguês. É saber que ser comerciante não é ganhar na loteria, não. É um trabalho a longo prazo. [...] Você, na verdade, quando você é dono, você passa a ser um empregado, o principal empregado da tua empresa."

Legado de um Pioneiro

A trajetória de Simon Pitel se confunde com a própria história de Brasília. Ele faz parte do seleto grupo de pioneiros que ajudaram a construir a cidade. Seu maior orgulho é ver o restaurante cheio aos domingos, com filas de espera, mesmo após mais de 50 anos. Atendendo a clientes de até quatro gerações, o Roma é mais do que um negócio, é uma realização de vida.

Simon Pitel, que se pudesse escolher uma nacionalidade teria um passaporte brasileiro, é um exemplo da coragem e da visão que caracterizaram os pioneiros de Brasília, pessoas que, como Juscelino Kubitschek, acreditaram no potencial de desbravar e ocupar o interior do Brasil.

Fonte: BSB60, Out 2020

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